Veja como é preparado o Berarubu

Na linguagem indígena, ‘berarubu’ significa ‘comida enterrada. A tradição vem do estado do Tocantis.

Veja como é preparado o Berarubu

Às margens do rio Tocantins, em Tocantínia, a 70 quilômetros da capital Palmas, está a Chácara Limoeiro. É ali que o contador Célio Costa mantém viva uma tradição herdada dos índios xerentes, que habitam a zona rural do município: o preparo do berarubu. “Na linguagem indígena, ‘berarubu’ significa ‘comida enterrada’”, revela. A comida em questão é a cabeça de boi, uma parte do animal que geralmente é descartada pelos frigoríficos da região. “Todos pensam que não há carne na cabeça do boi. Mas há. E muita”, conta Célio. Ele diz que uma única cabeça alimenta pelo menos 20 pessoas.

Célio é o organizador da Festa do Berarubu, que acontece anualmente em julho. “O berarubu deve ser feito na época da seca, pois a terra não pode estar úmida”. Ele explica que o preparo da cabeça se inicia com a abertura de um buraco com 60 centímetros, que deve, em seguida, ser aquecido com lenhas em brasa, por algumas horas. Enquanto isso, o cozinheiro Antônio Dias, amigo de Célio, retira da geladeira a cabeça do boi e começa a limpá-la: retira o couro, as orelhas, os olhos, corta os chifres do animal e, com a ajuda de uma mangueira, esguicha com água as cavidades para eliminar vestígios de sangue. A cabeça é, então, enrolada com papel-alumínio e, depois, com folha de bananeira e colocada dentro de um latão de alumínio,
antes de ser enterrada. Retira-se a brasa do buraco, coloca-se a lata dentro dele e cobre-se tudo com terra e brasa.

No dia seguinte, 12 horas depois, é momento de se desenterrar a cabeça. Antônio explica que o lento cozimento faz a carne existente na cabeça do animal se soltar do osso com facilidade. Ele também diz que não há necessidade alguma de tempero, nem mesmo de sal. “Você vai ver, não precisa de nada”, garante. O cozinheiro começa a desenrolar as folhas de bananeira e, depois, o papel-alumínio até revelar a cabeça de boi assada. O aroma é bem agradável, mas a aparência causa certa estranheza. Antônio corta a língua em vários pedaços. “É o filé-mignon do berarubu”, diz referindo-se à melhor parte. Entretanto, outros dizem preferir a carne da bochecha do boi. Antônio diz não gostar apenas de uma parte do animal: “só não consigo encarar o miolo. Não que ele seja ruim, mas me lembra o sabor de quiabo”, confessa, fazendo rir os convidados presentes.